Há algo de fascinante no movimento cultural que estamos vivendo: em plena era do streaming e da inteligência artificial, os jovens estão redescobrindo músicas de décadas passadas, muitas vezes anteriores até mesmo ao nascimento de seus pais. Canções que marcaram os anos 70, 80 e 90 voltam às paradas de sucesso, não mais pelas rádios ou pelas antigas gravadoras, mas graças a plataformas como o TikTok, que transformam trechos de músicas em trilhas sonoras virais. Esse fenômeno revela não apenas uma mudança nos hábitos de consumo musical, mas também um reencontro com um patrimônio cultural que parecia, até pouco tempo atrás, esquecido.

O vinil, símbolo máximo de uma época em que ouvir música era quase um ritual, ressurge com força. Lojas de discos usados, sebos e até grandes redes de comércio registram crescimento na venda de LPs, com jovens colecionadores em busca de uma experiência sonora mais “autêntica”. Para muitos, a materialidade do vinil contrasta com a efemeridade das playlists digitais, oferecendo uma sensação de presença, de contato real com a obra. O chiado da agulha no disco, que durante anos foi visto como imperfeição, hoje é valorizado como parte da experiência estética, como um sinal de que aquela música carrega história.
Esse renascimento, no entanto, não se limita ao objeto físico. Plataformas digitais têm desempenhado um papel decisivo ao resgatar canções antigas para um novo público. Um exemplo notável foi a volta da música Dreams, do Fleetwood Mac, ao topo das paradas em 2020, após um vídeo viral no TikTok. Jovens que jamais tinham ouvido falar da banda passaram a cantarolar seus sucessos, impulsionando um revival da carreira dos integrantes. Esse caso não é isolado: clássicos de artistas como Kate Bush, Rick Astley, Queen e até mesmo Roberto Carlos ganharam nova vida nas redes, atravessando gerações.
O que chama a atenção é como a internet, muitas vezes acusada de gerar consumos rápidos e superficiais, pode também abrir portas para uma apreciação mais profunda da história musical. Jovens curiosos, ao descobrirem uma canção em um vídeo viral, muitas vezes mergulham na discografia do artista, aprendendo sobre seu contexto histórico, seu estilo e sua importância cultural. Assim, músicas que nasceram em um cenário específico – seja a contracultura dos anos 60, o pop dançante dos 80 ou o grunge dos 90 – ganham nova interpretação, agora inseridas no imaginário digital do século XXI.
Há ainda outro aspecto importante: a nostalgia. Mesmo que muitos jovens não tenham vivido as décadas em que essas músicas foram lançadas, existe uma espécie de saudade “emprestada”, alimentada por filmes, séries e pela estética retrô tão presente na moda e na publicidade. O sucesso de séries como Stranger Things ilustra bem esse fenômeno: ao utilizar trilhas sonoras dos anos 80, a produção não apenas evoca a memória afetiva de gerações mais velhas, mas também desperta a curiosidade dos mais jovens, que buscam essas músicas nas plataformas digitais.
Esse movimento nos mostra que a música, apesar das mudanças tecnológicas, permanece como uma ponte entre gerações. O vinil e o TikTok, tão distantes no tempo e na forma, se encontram em um mesmo processo de ressignificação cultural. Enquanto o vinil oferece profundidade e materialidade, o TikTok garante alcance e velocidade. Juntos, permitem que clássicos sejam revisitados, reinterpretados e valorizados por novas audiências.
Em última análise, o fenômeno da redescoberta musical é um lembrete de que a boa música não envelhece: ela se adapta, renasce e encontra novos ouvidos sempre que surge a oportunidade. O que estamos vendo não é apenas uma moda passageira, mas um diálogo cultural que mantém viva a herança musical do passado, ao mesmo tempo em que inspira novas formas de criação no presente.
Até mais!
Tête-à-Tête

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