Publicado em 1920, Nós, de Yevgeny Zamyatin, é considerado uma das primeiras obras distópicas modernas e um marco da literatura russa e mundial. Ambientado em um futuro distante, o romance aborda os perigos do autoritarismo e da supressão da individualidade em nome da coletividade. Escrito em um período de mudanças políticas na Rússia pós-revolução, nós serviu como um alerta profético contra regimes totalitários.


Enredo

A história é narrada em forma de diário pelo protagonista D-503, um matemático e engenheiro que vive na cidade-estado chamada “União”, governada pelo Benfeitor. Nesta sociedade altamente controlada, os cidadãos – conhecidos como “números” – têm suas vidas organizadas segundo a lógica matemática. A liberdade foi concedida pela precisão absoluta; até mesmo suas horas de lazer e interações pessoais são rigidamente programadas.

D-503 é o responsável pela construção da nave espacial Integral, projetada para levar a ideologia da União a outros planetas. No entanto, sua perspectiva ordenada do mundo começa a desmoronar quando ele conhece a I-330, uma mulher intrigante que o introduz a um mundo de emoções e desejos proibidos. A partir daí, D-503 é envolvido em um movimento clandestino que busca o colapso do sistema opressor.


Temas Centrais

O Conflito entre Razão e Emoção

Em Nós, Zamyatin explora a dicotomia entre razão e emoção, simbolizada pelo contraste entre D-503 e I-330. Enquanto o D-503 acredita na perfeição da lógica matemática, o I-330 representa a imprevisibilidade e o caos das emoções humanas. A transformação gradual do protagonista, que passa a experimentar sentimentos contraditórios, é um dos aspectos mais profundos da narrativa.

Controle e Vigilância

A União é uma sociedade onde a transparência total é imposta: as casas são feitas de vidro, permitindo que todas sejam vigiadas o tempo inteiro. Essa falta de privacidade é uma metáfora poderosa para os regimes totalitários, que monitoram regularmente até mesmo os pensamentos de seus cidadãos.

Liberdade e Submissão

Os cidadãos da União foram condicionados a acreditar que a liberdade é uma fonte de sofrimento, enquanto a submissão ao coletivo traz felicidade. Essa ideologia, imposta pelo Benfeitor, reflete uma crítica ao discurso político que sacrifica direitos individuais em nome do bem-estar coletivo.


Análise Literária

A escrita de Zamyatin é repleta de simbolismos e metáforas, que desafiam o leitor a interpretar o que está além das palavras. A escolha de narrar a história em forma de diário oferece uma visão intimista da transformação de D-503, enquanto a linguagem fragmentada reflete o conflito interno do personagem.

O autor utiliza a matemática e a ciência como ferramentas narrativas para ilustrar a obsessão da sociedade pela ordem. A cidade-estado é uma visão distorcida de um mundo onde a racionalidade foi levada ao extremo, resultando em uma sociedade desumanizada.


Impacto e Relevância

Nós foi proibido na União Soviética até 1988 devido às suas críticas implícitas ao autoritarismo. Apesar disso, a obra influenciou escritores como George Orwell, que admitiu ter se inspirado no romance para escrever 1984 .

O livro também permanece relevante no mundo contemporâneo, especialmente nos debates sobre vigilância em massa, inteligência artificial e o impacto da tecnologia na privacidade e na liberdade individual.


Assim, Nós, de Yevgeny Zamyatin, é uma obra atemporal que transcende seu contexto histórico e se mantém como um alerta contra os perigos do totalitarismo e da desumanização. Através de uma narrativa instigante e uma crítica afiada, Zamyatin convida os leitores a refletir sobre o valor da liberdade, da individualidade e das emoções humanas.

O romance é uma leitura essencial para aqueles que apreciam distopias literárias e desejam compreender as raízes do gênero. Com sua mistura de ciência, filosofia e crítica social, Nós continua sendo uma das obras mais influentes da literatura moderna.


Curta! Comente! Compartilhe!

Até mais!

Benhur/Tête-à-Tête