Roger Scruton, filósofo conservador britânico, aborda em As Vantagens do Pessimismo e o Perigo da Falsa Esperança uma perspectiva provocativa e contraintuitiva sobre a importância do pessimismo na compreensão do mundo e na formulação de decisões políticas e sociais. Publicado em 2010, o livro oferece uma crítica incisiva ao otimismo irracional que, segundo Scruton, domina o pensamento moderno, muitas vezes levando a erros perigosos tanto no âmbito pessoal quanto no político.

Neste trabalho, Scruton defende que o pessimismo, ao contrário de ser uma atitude derrotista, é na verdade um antídoto contra ilusões que podem trazer consequências desastrosas. Ele argumenta que a falsa esperança, gerada pelo otimismo infundado, tende a levar as sociedades à negligência dos perigos reais e à criação de expectativas que dificilmente podem ser atendidas. A obra de Scruton, permeada de uma abordagem filosófica sólida e argumentações baseadas em eventos históricos e sociais, é um convite a reavaliar a tendência contemporânea de buscar soluções fáceis e rápidas para os problemas complexos da humanidade.


O Pessimismo como Virtude Filosófica

A tese principal de As Vantagens do Pessimismo é que o pessimismo, entendido não como uma visão negativa da vida, mas como um reconhecimento dos limites e das imperfeições da condição humana, pode nos guiar para escolhas mais prudentes e realistas. Scruton cita diversos filósofos e escritores, como Schopenhauer, Pascal e Hobbes, para fundamentar sua defesa do pessimismo. Segundo ele, esses pensadores, ao invés de sucumbirem ao desespero, enxergavam o pessimismo como um caminho para uma visão mais clara do mundo e de suas armadilhas.

O pessimismo filosófico de Scruton é uma forma de ceticismo prático. Ele argumenta que o otimismo desmedido – especialmente quando aplicado à política – muitas vezes resulta em ideologias que prometem utopias inalcançáveis. A esperança de que o mundo pode ser transformado pela política ou pelo progresso tecnológico muitas vezes ignora as limitações inerentes da natureza humana. Scruton relembra que, ao longo da história, as tentativas de criar paraísos terrenos resultaram em catástrofes. A Revolução Francesa, o comunismo soviético e outras grandes experiências utópicas são exemplos de como o otimismo descontrolado levou à tirania e ao sofrimento.

Para Scruton, o pessimismo oferece uma base mais segura para a vida em sociedade, pois está enraizado na aceitação da imperfeição humana e na cautela frente às promessas de mudanças radicais. Ele argumenta que, ao reconhecer nossas limitações, podemos construir instituições e tomar decisões políticas que respeitam essas limitações, em vez de tentar eliminá-las.


O Perigo da Falsa Esperança

Um dos principais alvos da crítica de Scruton em As Vantagens do Pessimismo é o que ele chama de “falsa esperança”. Para ele, a esperança é uma virtude apenas quando é moderada pela realidade e pelo senso de prudência. No entanto, a falsa esperança, que é a crença irracional de que tudo pode ser melhorado sem limites, é uma forma de escapismo perigoso. Ela nos leva a buscar soluções fáceis para problemas complexos e a acreditar em líderes ou sistemas que prometem resolver todos os males da sociedade de maneira simples e rápida.

Scruton exemplifica o perigo da falsa esperança com a ascensão de ideologias políticas que prometem resolver os problemas da desigualdade, da pobreza e da injustiça com soluções utópicas. Ele vê no socialismo e no progressismo contemporâneo exemplos claros de como a falsa esperança pode levar ao desastre. Para Scruton, essas ideologias partem do princípio equivocado de que a natureza humana é infinitamente maleável e que, com as políticas certas, é possível criar uma sociedade perfeita.

Ele argumenta que a história demonstra repetidamente que esses projetos utópicos acabam fracassando, muitas vezes com consequências trágicas. O problema da falsa esperança, segundo Scruton, é que ela ignora as realidades da condição humana: a nossa imperfeição, o nosso egoísmo e a nossa propensão ao erro. A tentativa de criar um mundo perfeito invariavelmente termina em desilusão e destruição, pois é baseada em uma premissa irrealista.


Conservadorismo e Pessimismo

Scruton associa fortemente o pessimismo ao conservadorismo, uma visão política que defende a preservação das instituições e tradições que evoluíram ao longo do tempo. Para ele, o conservadorismo é uma filosofia política que abraça o pessimismo de maneira saudável, reconhecendo que a mudança pode ser necessária, mas que ela deve ser lenta e cautelosa. A sociedade, segundo os conservadores, é um tecido delicado que pode ser facilmente destruído por reformas abruptas e mal planejadas.

O pessimismo conservador de Scruton se opõe ao otimismo revolucionário. Ele sustenta que o conservadorismo valoriza a continuidade e a estabilidade precisamente porque compreende as fraquezas da natureza humana e as limitações do poder político. Em vez de tentar reformar radicalmente a sociedade, o conservador prefere fazer ajustes graduais e respeitar as tradições que sustentam a ordem social.

Nesse sentido, Scruton critica fortemente o progressismo contemporâneo, que ele vê como uma forma de otimismo ingênuo. Para ele, os progressistas acreditam que todas as injustiças podem ser corrigidas por meio de reformas políticas e sociais, e que o passado deve ser descartado em favor de uma nova ordem. O problema dessa visão, segundo Scruton, é que ela ignora o valor das tradições e das instituições que sustentam a civilização. Ele defende que a sociedade ocidental alcançou um equilíbrio delicado entre liberdade e ordem ao longo de séculos, e que esse equilíbrio não deve ser destruído em nome de ideais utópicos.


A Ilusão do Progresso Infinito

Outro tema importante de As Vantagens do Pessimismo é a crítica de Scruton à ideia de progresso infinito. Ele argumenta que a crença de que o mundo está em constante evolução para um estado melhor é uma forma de otimismo perigoso. Embora o progresso científico e tecnológico tenha trazido muitos benefícios à humanidade, Scruton alerta para os perigos de acreditar que o progresso moral e social seguirá o mesmo caminho.

Para Scruton, o progresso moral é muito mais complicado e incerto do que o progresso tecnológico. Ele argumenta que, ao longo da história, os avanços tecnológicos nem sempre se traduziram em progresso moral. Na verdade, muitas vezes, eles exacerbaram os problemas morais, ao proporcionar novos meios de destruição e opressão. O século XX, com suas guerras mundiais e regimes totalitários, é um exemplo claro de como o progresso tecnológico pode coexistir com o retrocesso moral.

Scruton também adverte contra a crença de que a modernidade, por si só, garante o progresso moral. Ele critica o que vê como uma tendência moderna de rejeitar as virtudes e valores tradicionais em favor de um relativismo moral que, segundo ele, desorienta a sociedade. Para Scruton, a verdadeira moralidade está enraizada nas tradições e no respeito às normas que foram transmitidas ao longo das gerações, e não na tentativa de criar novos valores baseados em uma noção abstrata de progresso.


A Sabedoria do Realismo

Ao longo de As Vantagens do Pessimismo, Scruton defende uma abordagem realista da vida, baseada na aceitação dos limites da condição humana. Ele sustenta que, ao reconhecer nossas fraquezas e imperfeições, podemos desenvolver uma visão mais equilibrada do mundo e das nossas responsabilidades. Esse realismo é, em última análise, uma forma de sabedoria, pois nos permite evitar os erros causados pelo otimismo ingênuo e pela falsa esperança.

Scruton não está sugerindo que devemos abandonar toda esperança ou desistir de melhorar o mundo. Pelo contrário, ele acredita que o progresso é possível, mas apenas se for baseado em uma compreensão realista do que é alcançável. O pessimismo, para Scruton, é uma forma de moderação, que nos impede de cair nas armadilhas do excesso de confiança e da arrogância.


As Vantagens do Pessimismo é uma obra que desafia as noções convencionais de otimismo e progresso. Roger Scruton oferece uma defesa convincente do pessimismo como uma virtude filosófica e política, argumentando que o reconhecimento das limitações humanas é essencial para evitar os erros catastróficos do otimismo descontrolado. Com sua análise crítica de ideologias utópicas, sua defesa do conservadorismo e sua crítica ao progresso moral ilimitado, Scruton oferece uma perspectiva única e necessária em um mundo que frequentemente parece ser dominado por falsas esperanças.


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Equipe Tête-à-Tête