Publicado em 1909, Tremendas Trivialidades é uma coletânea de pequenos ensaios de G.K. Chesterton, que, com sua habitual sagacidade, paradoxos e humor, nos convida a enxergar grandeza no que parece pequeno e extraordinário no que julgamos banal. Como o título indica, são “trivialidades tremendas”: reflexões que brotam das coisas simples, mas que revelam verdades profundas sobre a vida, a fé e a condição humana.
O olhar de Chesterton
Chesterton tinha um talento raro: transformar o ordinário em fascinante. Enquanto muitos escritores buscavam temas grandiosos, ele voltava-se para o cotidiano — uma peça de giz, uma rua movimentada, uma história de dragões contada a uma criança. Seu método consistia em inverter perspectivas, mostrar que o que chamamos de “normalidade” é, na verdade, um milagre constante.
Sua prosa combina humor e filosofia. Chesterton não pretende dar lições acadêmicas, mas provocar encantamento. Ele fala com simplicidade, mas com profundidade; brinca com palavras, mas ao mesmo tempo atinge o coração da verdade.
Exemplos de ensaios
No célebre Um pedaço de giz (A Piece of Chalk), o autor parte da cena de desenhar no campo com giz colorido para refletir sobre arte, moralidade e a própria criação. Já em A Avó do Dragão (The Dragon’s Grandmother), uma fábula aparentemente infantil conduz à reflexão sobre as tradições, a imaginação e a herança cultural.
Outros textos exploram ruas de Londres, brinquedos, jornais, objetos perdidos — sempre revelando que cada fragmento do cotidiano esconde um universo de sentido.
Temas centrais
- Valor do comum – Chesterton insiste que os homens modernos perderam a capacidade de se maravilhar com o mundo.
- Imaginação como chave – O olhar infantil, poético e imaginativo é mais próximo da verdade do que o olhar cínico e “racionalista” da modernidade.
- Religião e fé – Embora não seja uma obra explicitamente teológica, muitos ensaios deixam transparecer sua visão cristã, mostrando como a vida cotidiana é permeada pelo divino.
- Crítica à modernidade – O autor denuncia como o mundo moderno despreza o simples e busca sempre o “grandioso”, esquecendo-se de que a realidade mais básica já é maravilhosa.
Relevância da obra
Tremendas Trivialidades não é apenas um conjunto de textos curiosos, mas uma verdadeira filosofia de vida. Chesterton nos ensina a olhar novamente para o mundo com olhos de criança — olhos capazes de surpresa, gratidão e reverência. Para ele, nada é trivial: cada pedra, cada gesto, cada história contém uma centelha de eternidade.
Conclusão
Mais de um século depois, o livro continua atual. Em tempos de pressa e superficialidade, em que buscamos sempre novidades, Chesterton nos convida a redescobrir a beleza do que já temos diante dos olhos. Ler Tremendas Trivialidades é experimentar um antídoto contra o cinismo moderno e recuperar o assombro pela vida.
Chesterton nos recorda que a verdadeira filosofia não está apenas nos tratados eruditos, mas também em um pedaço de giz colorido, uma rua anônima ou uma história aparentemente boba. Porque, no fundo, são essas “trivialidades” que tornam a existência verdadeiramente tremenda.
Até mais!
Tête-à-Tête

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