Contexto e definição
O Simbolismo surgiu na Europa no final do século XIX como contraposição ao Realismo e ao Parnasianismo, valorizando a exploração do mundo interior, dos símbolos, da musicalidade e da espiritualidade. No Brasil, o movimento se consolidou a partir de 1893 e se manteve até cerca de 1922. Os simbolistas rejeitavam a objetividade direta, preferindo a sugestão, a ambiguidade e a fuga da dura realidade cotidiana.
Características gerais do Simbolismo brasileiro
- Subjetivismo e espiritualidade: poetas voltados às sensações, sonhos, experiências sublimes, angústia e transcendência.
- Musicalidade e picturalidade: uso de métrica refinada, aliteração, assonância, sinestesia e maiúsculas simbólicas (“Luz”, “Morte”).
- Culto ao mistério: presença de símbolos, fuga para um mundo ideal, busca da “realidade por trás da realidade”.
- Ambiguidade temática: sinestesia, espiritualismo, melancolia abstrata.
- Realismo contrastado: oposição ao parnasianismo e ao realismo, contestando o discurso técnico e objetivo.
Cruz e Sousa (1861–1898)
Considerado o precursor do Simbolismo brasileiro e conhecido como “Dante Negro” ou “Cisne Negro”:
- Natural de Florianópolis, filho de ex-escravos, era profundamente erudito, dominando latim, francês e inglês. Atuou como jornalista abolicionista.
- Em 1893, deu início oficial ao Simbolismo no Brasil com os volumes Missal (prosa poética) e Broquéis (poemas em verso).
- Suas obras abordam temas como o branco, sinestesia, melancolia, espiritualidade, sensualidade e a morte.
- Exemplo: trecho do poema “Antífona”: “Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!…” - Cruz e Sousa inovou ao trazer ao português uma poesia sensível, além de refletir sobre o racismo e a própria dor.
Alphonsus de Guimaraens (1870–1921)
Afonso Henrique da Costa Guimarães, mais conhecido como Alphonsus de Guimaraens, é outro pilar do Simbolismo no Brasil:
- Advogado e juiz, poeta contemplativo e místico, chamado “O Solitário de Mariana”.
- Sua poesia explora a busca espiritual, o mistério da morte, o amor impossível, a solidão e a religiosidade católica, com tom resignado e de aceitação.
- Utilizou sonetos clássicos e métricas refinadas para manifestar seus temas místicos e mórbidos.
- Obras primordiais:
- Setenário das dores de Nossa Senhora (1899)
- Dona Mística (1899)
- Kyriale (1902)
Outros autores simbolistas
- A revista Rosa-Cruz (1901–1904) agrupou nomes como Castro Menezes, Saturnino de Meirelles e Alphonsus de Guimaraens.
- Outros poetas simbolistas, menos conhecidos, incluem Arthur de Salles e Alceu Wamosy (autor de Flâmulas, 1913), influenciados por Cruz e Sousa.
Relevância literária
- O Simbolismo introduziu no Brasil uma estética europeia adaptada à realidade local.
- A sinestesia, as maiúsculas simbólicas, a aliteração e as imagens insinuantes trouxeram novas possibilidades poéticas.
- A reflexão sobre temas como dor, morte e espiritualidade adicionou profundidade emocional ao movimento.
- Serviu como ponte para o Modernismo nacional das primeiras décadas do século XX.
Conclusão
O Simbolismo brasileiro (1893–c.1922) renovou profundamente a poesia nacional, incorporando lirismo musical, dimensão filosófica e metafísica, valorizando a expressão interior e os símbolos estéticos. Cruz e Sousa, com sua inovação e sofrimento, e Alphonsus de Guimaraens, com seu misticismo contemplativo, são os principais pilares desse movimento. A influência deles impulsionou o declínio do Parnasianismo e preparou o terreno para o Modernismo no Brasil.
Até mais!
Tête-à-Tête

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