O Burguês Fidalgo (Le Bourgeois Gentilhomme) é uma comédia-balé escrita por Molière e apresentada pela primeira vez em 14 de outubro de 1670 diante da corte do rei Luís XIV no Castelo de Chambord. A peça combina diálogos falados com música e dança, características típicas da comédie-ballet da época. A música foi composta por Jean-Baptiste Lully, a coreografia por Pierre Beauchamp, e a cenografia ficou a cargo de Carlo Vigarani .


Enredo e personagens principais

A trama gira em torno de Monsieur Jourdain, um burguês parisiense que, após enriquecer com o comércio de tecidos, deseja ascender à nobreza. Para isso, ele contrata professores de música, dança, esgrima e filosofia, acreditando que essas habilidades o tornarão digno da aristocracia. Apesar de seus esforços, Jourdain se torna alvo de zombarias devido à sua falta de talento e compreensão.

Sua esposa, Madame Jourdain, observa com preocupação as tentativas ridículas do marido e tenta dissuadi-lo de seus sonhos de nobreza. Sua filha, Lucile, está apaixonada por Cléonte, um jovem burguês, mas Jourdain insiste que ela se case com um nobre. Cléonte, com a ajuda de seu criado Covielle, se disfarça como um príncipe turco para enganar Jourdain e obter a mão de Lucile. A peça culmina em uma cerimônia absurda onde Jourdain é “feito” cavaleiro, satirizando a busca desesperada por status e reconhecimento social.


Sátira social e crítica à ascensão social

A peça é uma crítica mordaz à classe média que busca ascender à nobreza sem possuir as qualidades ou o entendimento necessários. Molière utiliza o personagem de Jourdain para expor a futilidade e a hipocrisia dessa busca por status. O título da peça já é uma ironia: um “burguês fidalgo” é uma contradição em termos, pois, na França do século XVII, um “gentilhomme” era, por definição, alguém de nascimento nobre, e não alguém que adquirisse títulos ou comportamentos para imitá-los.

Além disso, Molière critica a aristocracia por sua vaidade e superficialidade. Personagens como o conde Dorante e a marquesa Dorimène representam uma nobreza decadente, interessada apenas em aparência e status, disposta a explorar a ingenuidade de Jourdain para seus próprios benefícios.


A comédia-balé e a fusão de artes

O Burguês Fidalgo é uma das obras mais emblemáticas do gênero comédie-ballet, que combina teatro, música e dança. A peça não apenas satiriza as classes sociais, mas também reflete sobre a própria natureza do teatro e da arte. As interlúdios musicais e as coreografias não são apenas elementos decorativos, mas parte integrante da narrativa, contribuindo para o desenvolvimento dos personagens e para a crítica social proposta por Molière.


Legado e relevância contemporânea

Apesar de ter sido escrita há mais de 350 anos, O Burguês Fidalgo continua a ser relevante. A busca por status, a hipocrisia social e a crítica à superficialidade das classes dominantes são temas universais que transcendem o tempo. A peça foi adaptada e encenada inúmeras vezes ao longo dos séculos, mostrando sua durabilidade e a continuidade de suas mensagens.

Em 2013, o grupo de teatro Parlapatões, de São Paulo, realizou uma montagem da peça, trazendo elementos contemporâneos e brasileiros à história. A adaptação incluiu improvisações, músicas ao vivo e figurinos que mesclavam o século XVII com elementos modernos, destacando a atemporalidade da crítica de Molière à sociedade .


Conclusão

O Burguês Fidalgo é uma obra-prima que combina humor, crítica social e reflexão sobre a natureza humana. Molière, com sua habilidade única, cria uma peça que, embora situada no contexto da França do século XVII, aborda questões universais sobre identidade, classe social e a busca por reconhecimento. Sua relevância perdura, convidando o público a refletir sobre suas próprias aspirações e as estruturas sociais que as moldam.


Até mais!

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