A educação pública brasileira enfrenta uma crise profunda e persistente, que transcende questões orçamentárias ou de infraestrutura. O problema, segundo muitos críticos, está no próprio modelo pedagógico e jurídico adotado nas últimas décadas, o qual, apesar de bem-intencionado, teria contribuído para a queda contínua da qualidade do ensino e para a crescente indisciplina nas escolas.
Neste artigo, abordaremos dois pontos centrais para esse diagnóstico: a adoção quase exclusiva do método socioconstrutivista na alfabetização e as implicações do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) na gestão da disciplina escolar. A intenção não é desqualificar os princípios humanistas por trás dessas políticas, mas sim propor uma reflexão crítica e contribuir para o debate sobre como podemos reconstruir a educação brasileira com base na responsabilidade, na ciência e na realidade das salas de aula.
O fracasso da alfabetização: o abandono do método fônico
Um dos pontos mais controversos na educação atual diz respeito ao modelo de alfabetização adotado nas escolas públicas. O socioconstrutivismo, fortemente baseado nas ideias de Jean Piaget e Lev Vygotsky, ganhou hegemonia nos currículos pedagógicos desde os anos 1990. Esse método propõe que o aluno construa seu próprio conhecimento por meio de interações sociais e contextos significativos, partindo do princípio de que a aprendizagem ocorre naturalmente quando o ambiente é propício.
Embora atraente em teoria, críticos afirmam que esse modelo falha no ponto mais essencial da alfabetização: ensinar a decodificação do código escrito, ou seja, a relação entre letras e sons. O método fônico, centrado na fonética e no ensino sistemático dos sons das letras e sílabas, foi praticamente abandonado nas escolas públicas, mesmo sendo amplamente respaldado por pesquisas recentes em neurociência cognitiva.
Estudos realizados ao redor do mundo, inclusive no Brasil, indicam que o cérebro aprende a ler com maior eficiência quando há instrução explícita sobre fonemas e grafemas — exatamente o que o método fônico propõe. Países como Estados Unidos, Reino Unido e França já revisaram suas políticas educacionais para reintroduzir o ensino fônico em resposta a evidências empíricas sobre sua eficácia.
No Brasil, porém, essa mudança enfrenta resistência ideológica. Como resultado, muitos alunos chegam ao final do ensino fundamental sem saber ler com fluência ou interpretar textos básicos. A crise da interpretação textual, tão frequentemente destacada em avaliações como o PISA e a Prova Brasil, está diretamente ligada a uma falha estrutural na alfabetização inicial.
O ECA e a crise de autoridade nas escolas
Outro aspecto que preocupa educadores e especialistas é o que se convencionou chamar de “impunidade escolar”. Amparados por uma leitura rígida do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), muitos gestores e professores se veem de mãos atadas diante de comportamentos violentos e disruptivos de alunos. A norma legal impede medidas mais rigorosas, como expulsão, mesmo em casos graves de agressão física, ameaças ou danos ao patrimônio.
A lógica por trás do ECA é nobre: reconhecer que o adolescente está em formação e que punições severas podem comprometer seu desenvolvimento. No entanto, na prática, essa abordagem tem gerado consequências perversas: a completa erosão da autoridade do professor e da escola.
Atualmente, a legislação educacional brasileira impede que um aluno seja responsabilizado de forma efetiva por suas ações dentro do ambiente escolar. Em muitos casos, mesmo após reincidências em comportamentos violentos ou destrutivos, o máximo que pode ser feito é transferi-lo para outra escola pública — onde, muitas vezes, o ciclo se repete.
Esse modelo gera um duplo prejuízo: por um lado, afeta a qualidade do ensino para os demais alunos, que convivem com o medo e a desordem; por outro, desmoraliza o corpo docente, que perde a capacidade de gerir a disciplina com respaldo legal.
Além disso, ao tratar o adolescente apenas como vítima do sistema, o modelo atual retira dele qualquer noção de responsabilidade. Para muitos críticos, é preciso rever urgentemente o equilíbrio entre proteção e responsabilidade, sob risco de a escola pública se tornar um espaço ingovernável, onde o ensino se torna secundário diante da necessidade de manter a ordem mínima.
Consequências práticas e sociais
Os resultados da combinação entre má alfabetização e ausência de disciplina são visíveis: baixos índices de desempenho escolar, altas taxas de evasão e despreparo generalizado para o mercado de trabalho e a vida em sociedade. A escola pública, que deveria ser um instrumento de transformação social, acaba por reproduzir desigualdades ao fracassar justamente com os alunos mais vulneráveis.
A elite econômica do país, que pode pagar por escolas particulares com métodos mais eficazes e ambiente controlado, garante que seus filhos aprendam a ler corretamente, tenham disciplina e sejam preparados para exames e universidades. Enquanto isso, a maioria dos alunos da rede pública fica à mercê de políticas ineficientes, reféns de um discurso pedagógico que ignora a realidade das salas de aula.
Esse abismo educacional acaba por alimentar o ciclo da pobreza e da exclusão. A escola, que deveria ser um caminho para a emancipação intelectual, torna-se um espaço de frustração e fracasso para milhares de jovens brasileiros.
Propostas de mudança segundo os críticos
Para os que apontam falhas no modelo atual, a superação da crise da educação pública brasileira passa por medidas urgentes e corajosas, entre as quais se destacam:
- Reintrodução do método fônico nas séries iniciais, com base em evidências científicas da neuroeducação, para garantir uma alfabetização sólida e duradoura.
- Formação de professores com base em resultados concretos de aprendizagem, e não apenas em teorias abstratas. A prática deve ser aliada à ciência.
- Revisão do ECA no que diz respeito ao ambiente escolar, permitindo que a escola recupere sua autoridade e possa, com respaldo legal, proteger professores e alunos da violência e da indisciplina extrema.
- Criação de escolas especializadas para alunos com histórico de comportamento grave, onde haja estrutura para acompanhamento psicológico e social, sem comprometer o funcionamento da escola regular.
- Resgate do valor do mérito e da responsabilidade individual, promovendo uma cultura escolar em que esforço, respeito e disciplina sejam recompensados.
A crise da educação pública brasileira não será resolvida apenas com mais verbas ou tecnologia. Ela exige coragem política, revisão de modelos pedagógicos e mudanças legais profundas. A alfabetização baseada em métodos falhos e a impunidade disciplinar nas escolas são sintomas de um sistema que perdeu o foco em sua missão principal: ensinar e formar cidadãos livres, responsáveis e preparados para o mundo.
É hora de reavaliar, com honestidade e compromisso com a verdade, as escolhas que nos trouxeram até aqui. Só assim poderemos construir uma educação pública que não seja apenas inclusiva, mas que também seja efetiva, transformadora e justa.
Até mais!
Tête-à-Tête

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