No país chamado República da Justiça Verdadeira, a justiça era o princípio sagrado proclamado em cada esquina. Autoridades do alto escalão governamental , juízes supremos e os magnatas da mídia reuniam-se semanalmente no Salão da Liberdade de Pensamento para celebrar o “Dia da Defesa da Democracia”. Lá, com discursos carregados de lágrimas de crocodilo, recordavam os horrores das antigas ditaduras e juravam jamais permitir que a opressão voltasse a acontecer.

“Nunca esqueceremos as vítimas da tirania!” bradava um Supremo Juiz com sua fala de “veludo” enquanto segurava o microfone com um tremor teatral. “Todo cidadão tem o direito de falar sem medo!” acrescentava o Ministro da Justiça, acenando com firmeza.

Mas, por trás das grossas cortinas do Salão, a realidade era bem diferente. Em uma sala isolada e à prova de som chamada “Câmara da Justiça Rápida”, decisões cruciais eram tomadas a uma velocidade estonteante. Qualquer um que ousasse questionar o governo ou criticar os tribunais recebia rapidamente uma “carta de carinho”— uma intimação judicial mais assustadora que uma mensagem do ex.

“Estamos apenas protegendo a democracia de ameaças,” sussurrava um dos juízes que reluzia ao sol enquanto assinava a ordem de prisão de um pequeno empresário que, em um comentário nas redes sociais, ousara dizer que a política do governo era “um pouco exagerada”.

A grande mídia, carinhosamente apelidada de “Guardião da Verdade”, competia para divulgar as histórias heroicas das autoridades que combatiam os “grupos malignos”— aqueles que se atreviam a pensar diferente. Os mesmos que antes protestavam contra a censura nas antigas ditaduras agora justificavam a perseguição contra quem discordava. “É para preservar a harmonia social,” diziam, enxugando lágrimas de emoção.

“Claro que defendemos a liberdade de expressão,” afirmava um porta-voz da mídia enquanto apagava comentários que destoavam da narrativa oficial. “Desde que você diga o que queremos ouvir.”

Na República da Justiça Verdadeira, não havia espaço para vozes discordantes. Aqueles que no passado juraram combater o autoritarismo agora o abraçavam calorosamente — desde que os alvos fossem seus adversários políticos, e para os quais não deveria haver anistia. Destilavam ódio! E quando alguém ousava perguntar: “Isso não contradiz os princípios democráticos?” tudo o que se ouvia era o eco das risadas vindas da Câmara da Justiça Rápida, onde a verdade era moldada sob encomenda. Alguns sussurravam: – “Não estamos nem aí”!

*autor é totalmente desconhecido para se proteger do excesso de democracia brasileira.


Até mais!

Equipe Tête-à-Tête