O Realismo foi um movimento artístico e literário que se desenvolveu na Europa no século XIX, principalmente na França, como uma ocorrência contra o idealismo e o escapismo do Romantismo. Os artistas e escritores realistas buscavam representar a realidade de maneira fiel e objetiva, focando nas condições sociais, econômicas e políticas da vida cotidiana. No Realismo, há uma forte intenção de retratar o mundo como ele realmente é, sem idealizações, e de expor problemas sociais, políticos e morais da época.


Contexto Histórico

O surgimento do Realismo está intimamente ligado a uma série de mudanças profundas que ocorreram no século XIX, incluindo a Revolução Industrial, o crescimento urbano, as transformações nas classes sociais e o avanço da ciência. A ascensão da classe média e das classes trabalhadoras, além do desenvolvimento das ciências naturais, influenciou uma nova visão de mundo, que valorizou a observação objetiva e crítica da realidade.

As descobertas científicas também impactaram a filosofia e a maneira de pensar sobre a sociedade, a política e a economia, levando ao surgimento de teorias como o positivismo de Auguste Comte e o materialismo histórico de Karl Marx. Essas ideias tiveram um ambiente propício para que o Realismo se consolidasse como um movimento comprometido em explorar e representar a realidade de forma detalhada e crítica.


Características do Realismo

O Realismo possui algumas características fundamentais que o diferenciam dos movimentos anteriores, como o Romantismo, e o tornam um marco na história da arte e da literatura:

Observação Objetiva e Impessoal: A abordagem do Realismo é objetiva, com os artistas buscando descrever a realidade sem idealizações ou exageros emocionais. Os personagens são retratados com complexidade, evidenciando suas qualidades e defeitos de forma equilibrada.

Temas Cotidianos e Sociais: O Realismo coloca o foco em temas que envolvem a vida cotidiana, as classes sociais e as relações interpessoais, especialmente as lutas e injustiças enfrentadas pelas classes menos favorecidas. A crítica social é um elemento central, buscando trazer à tona os problemas da sociedade da época.

Personagens Complexos e Verossímeis: Ao contrário dos heróis idealizados do Romantismo, o Realismo apresenta personagens com características comuns, com dúvidas, fraquezas e limitações. Essas figuras são construídas com profundidade psicológica e são representativas de questões universais e sociais.

Narrativa Detalhista e Descritiva: No Realismo, há uma forte ênfase na descrição detalhada de ambientes, objetos e situações. Esse nível de detalhe é uma forma de tornar a narrativa mais próxima da realidade, ajudando o leitor a visualizar e compreender melhor o contexto dos personagens.

Crítica ao Idealismo Romântico: O Realismo se opõe ao idealismo e ao escapismo do Romantismo, que foge da realidade para mundos de fantasia e emoção exagerada. Em vez disso, os artistas realistas preferem enfrentar as questões da vida de forma direta, abordando os aspectos duros e complexos da existência humana.


Realismo na Literatura

A literatura foi um dos principais meios pelos quais o Realismo se manifestou, especialmente na França, com autores como Gustave Flaubert, Honoré de Balzac e Émile Zola , que são considerados precursores do movimento.

Gustave Flaubert é autor de uma das obras mais emblemáticas do Realismo, Madame Bovary (1857), que retrata a vida de Emma Bovary, uma mulher frustrada com o casamento e a vida provinciana. Flaubert explora a complexidade psicológica do personagem e critica as ilusões românticas que ela nutre, mostrando o impacto negativo dessas ilusões em sua vida.

Honoré de Balzac, com sua vasta obra A Comédia Humana, criou um retrato monumental da sociedade francesa de sua época, explorando diferentes aspectos da vida social, econômica e política. Em obras como Ilusões Perdidas, Balzac descreve de forma minuciosa as ambições e as fraquezas dos personagens, oferecendo uma visão abrangente da sociedade.

Émile Zola levou o Realismo ao extremo com o Naturalismo, um movimento que pode ser visto como uma ramificação do Realismo. Em obras como Germinal, ele aborda as condições de trabalho dos mineiros e as dificuldades das classes trabalhadoras, propondo uma narrativa ainda mais científica e determinista, na qual os personagens são fortemente influenciados pelo ambiente e pela hereditariedade.


Realismo nas Artes Plásticas

Nas artes plásticas, o Realismo também encontrou expressão, especialmente na pintura. Artistas como Gustave Courbet e Jean-François Millet desempenharam papéis fundamentais na construção do movimento.

Gustave Courbet é conhecido por sua representação de cenas cotidianas e de trabalhadores rurais em grandes telas, o que era incomum na época. Em pinturas como Os Quebradores de Pedra (1849) e Um Enterro em Ornans (1849-1850), Courbet retrata a realidade da vida rural sem idealizações, enfatizando a dureza e o peso do trabalho.

Um Enterro em Ornans

Jean-François Millet é outro pintor que explorou a vida dos camponeses. Em obras como As espigadoras (1857), Millet apresenta a vida dura e humilde dos trabalhadores do campo, com uma abordagem humanista e realista que inspira compaixão e empatia.

As espigadoras

A obra desses artistas influenciou significativamente a arte moderna e foi um ponto de partida para movimentos posteriores, como o Impressionismo, que também se preocupava com a realidade, mas de uma forma menos crítica e mais voltada para a experimentação com luz e cor.


O Realismo no Brasil

No Brasil, o Realismo surgiu no final do século XIX, influenciado pelas ideias europeias, especialmente francesas. Um dos principais representantes do Realismo brasileiro é Machado de Assis, considerado um dos maiores escritores do país e da literatura em língua portuguesa.

Machado de Assis escreveu obras que exploram profundamente a psicologia humana e criticam a sociedade brasileira de sua época. Em romances como Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro, ele utiliza técnicas inovadoras e uma abordagem realista para tratar de temas como a hipocrisia, o adultério, a ambição e a vaidade. Suas obras refletem uma análise crítica e irônica da sociedade, revelando as contradições e fraquezas da natureza humana.

Outros autores brasileiros que contribuiram para o Realismo incluem Aluísio Azevedo, com obras como O Cortiço, que descreve as condições de vida em um cortiço no Rio de Janeiro e aborda questões como a pobreza, o preconceito e a desigualdade social.


Legado do Realismo

O Realismo teve um impacto duradouro na literatura, na pintura e na cultura em geral. Ele influenciou movimentos subsequentes, como o Naturalismo e o Modernismo, que exploraram a realidade e as questões sociais de maneiras ainda mais ousadas. Além disso, o Realismo abriu caminho para novas formas de expressão artística e literária, nas quais a busca pela verdade e pela representação honesta da realidade se torna princípios fundamentais.

A influência do Realismo pode ser vista também no desenvolvimento do romance psicológico e da análise social na literatura, bem como no cinema e na televisão, onde a narrativa realista e o retrato fiel de personagens continuam a ser valorizados.


Em suma

O Realismo foi um movimento revolucionário que mudou para sempre a forma como a arte e a literatura representam a realidade. Ao afastar-se das idealizações do Romantismo e focar em uma visão objetiva e crítica da sociedade, o Realismo abriu novas possibilidades de expressão e influenciou gerações de artistas e escritores. Sua ênfase na descrição detalhada e na complexidade dos personagens, bem como sua abordagem crítica das questões sociais, fez dele um dos movimentos mais significativos do século XIX, cujo legado continua a ser sentido até os dias de hoje.


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