A Parábola dos Cegos (em neerlandês: De parabel der blinden) é uma pintura do artista do Renascimento flamengo Pieter Bruegel, o Velho, concuída em 1568. Executada usando a técnica de tinta plástica sobre tela de linho, ela mede 86 cm × 154 cm. Atualmente, a tela faz parte do acervo do Museu de Capodimonte, em Nápoles, Itália.

A obra retrata a parábola contada por Jesus Cristo, na qual o cego guia outro cego. A passagem bíblica aparece em Mateus 15:14, quando Jesus dirige uma crítica aos fariseus: “Deixai-os. São cegos e guias de cegos. Ora, se um cego conduz a outro, tombarão ambos na mesma vala.” A narrativa é comumente interpretada como uma metáfora para descrever uma situação em que uma pessoa sem conhecimento é aconselhada por outra pessoa que também não tem conhecimento algum sobre determinado assunto.
Bruegel tinha forte inclinação artística para representar alegorias, provérbios e parábolas nas obras dele. Buscando retratar a realidade das pequenas aldeias da região de Flandres (que embora já se encontrasse sob os ideais renascentistas, ainda trazia enraizada nas relações sociais certas tradições da cultura medieval), o pintor flamengo recria a célebre parábola bíblica dos cegos.
O autor pintava com a objetividade empírica da Renascença. Em trabalhos mais antigos, os cegos eram representados com os olhos fechados. Nesta pintura, no entanto, Bruegel confere realismo à cegueira dos homens na cena, de maneira que cada figura tem um problema ocular diferente.
De acordo com Rose-Marie e Rainer Hagen, “os médicos de hoje podem diagnosticar as suas doenças de olhos ou determinar as causas da sua cegueira: o da esquerda sofre de glaucoma, o da direita de amaurose; ao cego em baixo, foram vazados os olhos como castigo durante uma rixa”. Embora caiam todos em sequência, os homens mantêm a cabeça altiva para um melhor uso dos outros sentidos sensoriais.
Assim como em outras obras do pintor, A Parábola dos Cegos ressalta a ambiguidade dos temas abordados no catálogo de Bruegel. Da mesma forma que na tela Os Mendigos, o pintor flamengo mostra, no trabalho em questão, que tem uma visão do ser humano como indivíduo imperfeito. Isso se manifesta na escolha por representar personagens como cegos e pedintes, não separando no cenário o que é ser humano, animal e vegetal. Da seguinte maneira, Bruegel questiona a semelhança do homem com a imagem do Deus cristão.
A melancolia é um dos traços mais marcantes do quadro. Dessa forma, Bruegel busca transportar para o plano imagético o mote principal da parábola: a ideia de que um cego que guia outros cegos acaba levando todos ao mesmo abismo. Por meio da composição diagonal (a qual confere uma tensão dramática à tela) o autor busca exprimir o movimento de queda em sequência dos seis personagens retratados, reforçando a ideia de uma morte em série. A obra pode ser interpretada, ainda, como uma forma de tratar a cegueira espiritual em relação à religião.
O romance histórico Bruegel, or the Workshop of Dreams (1987), escrito por Claude-Henri Rocquet, sugere que a escolha do tema da tela de Bruegel se deu pelo medo incondicional que o próprio pintor tinha de perder a capacidade de enxergar.
Até mais!
Equipe Tête-à-Tête

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