Roger Scruton, um dos mais importantes filósofos conservadores contemporâneos, escreveu “O Rosto de Deus” como uma reflexão profunda sobre o significado da religião e da transcendência no mundo moderno. Publicado em 2012, este livro é uma meditação filosófica sobre o papel de Deus na cultura humana, especialmente no contexto da secularização e da busca por sentido em uma sociedade que muitas vezes rejeita o transcendente. Scruton, que sempre defendeu valores tradicionais, busca em “O Rosto de Deus” restaurar o sentido do sagrado e mostrar a importância de Deus para a vida humana e para a compreensão do que é belo e verdadeiro.

A Centralidade do Rosto
O ponto de partida do livro está na questão do “rosto” como uma metáfora para a presença de Deus no mundo. Scruton argumenta que o rosto humano é um símbolo do divino, representando nossa capacidade de nos comunicarmos com algo além de nós mesmos, algo que transcende o mundo material. O rosto não é apenas uma parte física do corpo, mas uma janela para a alma. Scruton afirma que, ao olhar para o rosto de outra pessoa, encontramos mais do que carne e osso: encontramos personalidade, intenção e profundidade. O rosto, segundo ele, reflete a existência de algo além do físico, remetendo à ideia de um Criador que nos deu a capacidade de ver, de conhecer e de nos relacionarmos com o transcendente.
Ele relaciona isso diretamente com a ideia de Deus. Deus, como o rosto último da criação, nos observa e nos chama para uma resposta. O rosto de Deus, no entanto, não é algo visível de maneira concreta, mas é algo que sentimos e intuimos em nossa busca por significado e em nossa relação com o outro. Scruton se opõe fortemente à ideia de que o mundo moderno, com seu foco no materialismo e no individualismo, possa simplesmente ignorar essa presença transcendente sem perder algo fundamental da experiência humana.
A Crítica à Secularização
Scruton critica a secularização, que ele vê como uma das forças destrutivas da modernidade. Ele argumenta que a rejeição do sagrado e do transcendental levou a um empobrecimento da experiência humana. Para ele, a modernidade é marcada por uma ruptura com o sagrado, uma desconexão com as tradições religiosas que sustentavam as sociedades por milênios. A modernidade secularizada, ao tentar substituir Deus por explicações racionais ou científicas, privou os seres humanos de um senso de mistério e de reverência.
Ele critica o materialismo científico que, segundo ele, tenta reduzir tudo ao que pode ser medido ou quantificado. Para Scruton, essa abordagem não pode explicar fenômenos fundamentais da existência humana, como o amor, a beleza ou a própria busca por significado. Ele sustenta que a secularização é, em última análise, uma tentativa fútil de preencher o vazio deixado pela ausência de Deus. Sem um senso de transcendência, as sociedades modernas tendem a cair no niilismo, perdendo o sentido da vida e da moralidade.
Beleza e Transcendência
Outro tema central do livro é a relação entre beleza e transcendência. Scruton, um defensor ferrenho da importância da beleza, argumenta que o belo é uma manifestação do divino no mundo. Ele vê a beleza como algo que nos eleva além da realidade cotidiana, nos conectando com algo maior e mais profundo. A beleza, segundo Scruton, tem uma função espiritual, pois nos faz perceber a existência de algo que transcende a realidade material.
A arte, a música e a arquitetura, para ele, são expressões dessa busca pelo divino. No entanto, na modernidade, essas expressões têm sido desfiguradas por uma cultura que muitas vezes rejeita a beleza em favor da provocação ou do utilitarismo. Scruton lamenta a perda da reverência pelo belo, que ele vê como um sintoma da secularização e da rejeição da transcendência. Para ele, a verdadeira arte é aquela que nos conecta com Deus, que nos faz perceber a sacralidade do mundo.
A Religião e a Experiência Humana
Em “O Rosto de Deus”, Scruton defende que a religião é uma necessidade humana. Ele rejeita a visão moderna de que a religião é uma invenção arcaica ou uma superstição que deve ser abandonada. Em vez disso, ele argumenta que a religião é uma parte essencial da condição humana, uma resposta natural à experiência do mistério e do sofrimento.
Para Scruton, a religião oferece um sentido de pertencimento e de significado que a sociedade secular não consegue proporcionar. Ela nos conecta com nossos antepassados, com nossas tradições e com o cosmos de uma maneira que vai além das explicações científicas. A religião nos ajuda a lidar com o sofrimento, com a perda e com a morte, oferecendo um caminho para a redenção e para a esperança.
Ele também argumenta que a religião é crucial para a manutenção da ordem social. Sem a religião, as sociedades correm o risco de se fragmentar, pois a religião fornece uma base moral que sustenta as leis e as instituições. Ele critica a ideia moderna de que a moralidade pode existir independentemente da religião, afirmando que, sem a crença em um poder superior, a moralidade se torna relativa e arbitrária.
A Perspectiva Conservadora
“O Rosto de Deus” é uma obra profundamente conservadora no sentido de que Scruton defende a preservação das tradições religiosas e culturais que sustentaram a civilização ocidental. Ele acredita que a rejeição dessas tradições em nome do progresso ou da modernidade é perigosa e leva à desintegração social e cultural.
Scruton vê a religião como a âncora da sociedade, algo que mantém as pessoas conectadas com suas raízes e com um senso de propósito. Para ele, a religião não é apenas uma questão de crença pessoal, mas é algo que molda a cultura e a civilização como um todo. Ele alerta contra os perigos de uma sociedade que tenta viver sem Deus, afirmando que isso inevitavelmente levará ao caos moral e à perda de significado.
“O Rosto de Deus” é uma defesa eloquente da importância da religião e da transcendência no mundo moderno. Roger Scruton nos lembra que, apesar dos avanços tecnológicos e científicos, a experiência humana continua sendo marcada pelo mistério e pela busca por sentido. Ele argumenta que, sem Deus, perdemos algo fundamental da nossa humanidade, e que a secularização, longe de ser um progresso, é uma ameaça à coesão social e ao bem-estar espiritual.
Este livro é uma leitura essencial para quem busca entender o papel da religião na vida moderna e a importância de preservar o sagrado em uma era que muitas vezes o rejeita. Scruton nos convida a reconsiderar nossa relação com Deus e com o transcendente, lembrando-nos de que a verdadeira beleza e o verdadeiro significado só podem ser encontrados quando reconhecemos a presença divina no mundo e em nossas vidas.
Boa leitura!
Até mais!
Equipe Tête-à-Tête

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