Nos últimos anos, presenciamos uma mudança significativa na forma como os pais educam seus filhos. A transição de um modelo mais autoritário para um modelo permissivo de criação gerou inúmeras discussões, especialmente no que diz respeito às consequências dessa abordagem na formação psicológica e emocional das crianças. A permissividade excessiva, marcada pela ausência de limites claros e pela falta de autoridade, tem sido apontada por especialistas como um dos fatores que afetam a criação de crianças emocionalmente frágeis, incapazes de lidar com as adversidades da vida adulta.


A Ascensão da Permissividade Parental

A permissividade parental pode ser definida como uma prática de permitir que os filhos tomem decisões e ajam sem a imposição de regras limites ou rígidas. Em muitos casos, esse estilo de educação é adotado com a intenção de evitar o autoritarismo e a repressão, com os pais buscando uma relação mais amigável e compreensiva com os filhos. No entanto, esse extremo oposto ao espectro educacional tem gerado preocupações, especialmente no que diz respeito à capacidade das crianças de desenvolverem resiliência e autocontrole.

Essa nova abordagem educativa tem como base a ideia de que as crianças devem ser livres para expressarem suas vontades e desejos, sem que os pais imponham grandes restrições. Essa postura, apesar de bem-intencionada, acaba, em muitos casos, gerando uma confusão entre liberdade e ausência de limites. Os filhos, acostumados a terem suas vontades sempre atendidas, não desenvolvem a capacidade de lidar com frustrações, e essa carência pode resultar em indivíduos despreparados para os desafios e contrariedades da vida adulta.


O Impacto da Ausência de Limites

O psicólogo e professor da Universidade de Toronto, Jordan Peterson, é uma das vozes críticas em relação à permissividade excessiva na educação dos filhos. Em sua obra “12 Regras para a Vida”, Peterson aponta que os pais têm a responsabilidade de educar seus filhos de forma a prepará-los para enfrentar o mundo real que trará desafios e adversidades. Ele afirma que “crianças que nunca são disciplinadas de forma adequada crescem sem entender os limites de seu comportamento, o que as torna vulneráveis ​​às realidades duras da vida”.

Segundo Peterson, a ausência de autoridade parental cria um ambiente onde a criança não desenvolve o necessário senso de responsabilidade. Ele afirma: “Crianças precisam de regras e limites para entender como o mundo funciona. Eles não nascem sabendo o que é aceitável ou inaceitável; cabe aos pais impor essas regras, não apenas para a segurança imediata da criança, mas também para prepará-la para o futuro”.

A ausência de limites claros, como aponta Peterson, pode gerar jovens que não conseguem lidar com a exclusão, a frustração e os obstáculos naturais da vida adulta. Ao contrário, tornam-se adultos que esperam que suas vontades sejam sempre satisfeitas, uma expectativa irreal e perigosa no contexto que nem sempre vai atender seus desejos e expectativas.


Fragilidade Emocional e Incapacidade de Lidar com Adversidades

Quando as crianças crescem sem serem expostas a frustrações e limitações, elas não aprendem a enfrentar situações adversas. A vida adulta é repleta de desafios e situações que encerram a resiliência, a paciência e a capacidade de lidar com o fracasso. No entanto, os filhos criados de maneira permissiva frequentemente desenvolvem uma mentalidade de que devem ser sempre protegidos de qualquer dor ou desconforto. Essa visão não é só irreal, mas também perigosa, pois prepara os jovens para o fracasso emocional no futuro.

Jonathan Haidt, psicólogo social e coautor do livro “A Mente Moralista”, também argumenta que a superproteção e a falta de autoridade parental criam jovens emocionalmente frágeis. Ele alerta que “quando as crianças são protegidas de todo o desconforto ou desafio, elas crescem sem desenvolver as ferramentas necessárias para lidar com as dificuldades naturais da vida”. Haidt critica a cultura da hiperproteção, em que os pais, com medo de que os filhos sofram, acabam privando-os de experiências possíveis para o crescimento pessoal.

Segundo Haidt, ao serem poupadas das dificuldades, as crianças não desenvolvem a capacidade de perseverança. Ele afirma: “A superproteção enfraquece a resiliência das crianças, fazendo com que elas cresçam sem a capacidade de lidar com a realidade que as aguarda na vida adulta. O fracasso é parte do aprendizado e contribui para o desenvolvimento”.


Pais como Guias e Líderes: A Importância da Autoridade

É crucial entender que a autoridade parental não deve ser confundida com o autoritarismo. Ter autoridade sobre os filhos não significa subjugá-los ou impor medo. Pelo contrário, trata-se de orientar, impor limites saudáveis ​​e, acima de tudo, preparar as crianças para serem autossuficientes e emocionalmente seguras.

O modelo autoritário excessivo do passado certamente tinha suas falhas, como a falta de diálogo e a repressão emocional. No entanto, a ocorrência desse modelo criou um novo extremo, onde muitos pais, temendo repetir os erros do passado, acabou por se afastar demasiado da ideia de autoridade. O problema é que, sem essa estrutura, as crianças perdem a noção de responsabilidade, de causa e efeito, e da importância de regras.

Peterson ressalta que os pais devem ser firmes, mas justos, explicando às crianças o porquê das regras e consequências. Ele argumenta que “não se trata de punir a criança por ser mais, mas de ensinar que o mundo tem regras que precisam ser seguidas para que haja ordem e harmonia”. Essa abordagem ensina às crianças sobre a importância da autodisciplina e do autocontrole, duas qualidades essenciais para o sucesso na vida adulta.


As Consequências na Vida Adulta

A fragilidade emocional desenvolvida durante a infância pode ter impactos significativos na vida adulta. Jovens que não aprenderam a lidar com frustrações tendem a sofrer mais com questões como ansiedade, depressão e insegurança. Além disso, tendem a ter dificuldades em assumir responsabilidades, seja no ambiente de trabalho ou nas relações pessoais.

A psicóloga e escritora Esther Wojcicki, em seu livro “How to Raise Successful People”, também critica o modelo permissivo e superprotetor de educação. Ela defende que “ao não dar às crianças a oportunidade de falharem, os pais as privam de uma das mais importantes lições da vida: como aprender com os erros”. Wojcicki acredita que o fracasso, quando enfrentado e superado, é um dos maiores professores que uma criança pode ter.

Os pais que adotam uma postura permissiva, ao tentarem proteger seus filhos de qualquer tipo de dor ou desconforto, acabam por criar adultos que não sabem como lidar com as inevitáveis ​​adversidades da vida. A ausência de experiências desenvolvidas durante a infância resulta em uma incapacidade de desenvolver mecanismos de enfrentamento, o que se reflete em problemas como baixa autoestima, dificuldades de relacionamento e incapacidade de manter a estabilidade emocional diante dos contratempos.


O Caminho do Meio: Autoridade com Compaixão

A solução para a crise da educação parental moderna não está em retornar aos modelos autoritários, mas em encontrar um equilíbrio saudável entre autoridade e compaixão. Os pais devem ser guias firmes, mas amorosos, que procurem dar às crianças o mundo do que elas precisam, ao mesmo tempo em que as preparam para as realidades do mundo.

Educar uma criança não é uma tarefa fácil. Requer paciência, sabedoria e, acima de tudo, a capacidade de encontrar o equilíbrio entre proporcionar carinho e limites importantes. Como ressalta Jordan Peterson, “os pais têm a responsabilidade de preparar seus filhos para o mundo real, e isso inclui ensiná-los que a vida é cheia de desafios que precisam ser enfrentados com coragem e resiliência”.

Portanto, a crítica à forma como muitos pais educam seus filhos hoje não é sobre a intenção por trás de suas escolhas, mas sobre os resultados que essas escolhas produzem. Se continuarmos a evitar que as crianças enfrentem as dificuldades da vida, estaremos criando uma geração incapaz de lidar com as adversidades que, inevitavelmente, todos encontrarão. O caminho do meio, que combina autoridade, empatia e disciplina, é o que permitirá que nossos filhos se tornem adultos fortes, resilientes e preparados para os desafios do mundo.


Até mais!

Equipe Tête-à-Tête