A influência dos Estados Unidos no Oriente Médio é um tema complexo, que envolve questões geopolíticas, econômicas e culturais. Desde o início do século XX, os EUA desempenharam um papel central na política e nos conflitos da região, em parte devido aos interesses estratégicos relacionados ao petróleo, à segurança de Israel e ao combate ao terrorismo. Ao longo das últimas décadas, a presença americana no Oriente Médio moldou os desdobramentos de muitos conflitos e crises, ao mesmo tempo que criou tensões tanto com governos locais quanto com a população.


O início da presença americana no Oriente Médio

A relação dos Estados Unidos com o Oriente Médio começou a se intensificar após a Segunda Guerra Mundial. Antes disso, os EUA tinham uma presença limitada na região, e quem exercia maior influência eram as potências coloniais europeias, como o Reino Unido e a França. Entretanto, com o colapso do Império Britânico e o declínio do colonialismo europeu, os Estados Unidos começaram a emergir como a nova potência dominante na política global, e o Oriente Médio, com suas vastas reservas de petróleo, tornou-se uma área de interesse prioritário.

Em 1945, o presidente Franklin D. Roosevelt firmou um acordo com o rei Ibn Saud da Arábia Saudita, estabelecendo uma aliança estratégica baseada no fornecimento de petróleo em troca de apoio militar e econômico. Esse acordo marcou o início da longa relação dos EUA com a monarquia saudita, uma parceria que continua até os dias de hoje. Além disso, a criação do Estado de Israel, em 1948, estabeleceu um dos pilares mais importantes da política externa americana no Oriente Médio.


A Guerra Fria e o Oriente Médio

Durante a Guerra Fria, o Oriente Médio tornou-se um campo de batalha geopolítico entre os Estados Unidos e a União Soviética. Ambas as superpotências buscavam expandir sua influência na região, apoiando diferentes governos e grupos políticos. Os EUA, temendo a expansão do comunismo no Oriente Médio, apoiaram regimes autoritários que eram aliados no combate à influência soviética, como o Irã sob o xá Mohammad Reza Pahlavi, o Egito sob Anwar Sadat e a Arábia Saudita.

A política de contenção dos EUA levou à participação em várias intervenções militares e golpes apoiados pela CIA, como o golpe de Estado no Irã em 1953, que derrubou o primeiro-ministro Mohammad Mossadegh, após sua tentativa de nacionalizar a indústria petrolífera iraniana. Esse golpe é amplamente visto como um ponto de virada nas relações entre o Irã e os EUA, lançando as bases para o sentimento antiamericano que culminou na Revolução Islâmica de 1979.


O petróleo como fator central

O petróleo tem sido uma das principais razões da intervenção americana no Oriente Médio. A necessidade de garantir o acesso seguro às vastas reservas de petróleo da região foi um fator que moldou muitas das decisões políticas dos EUA. A crise do petróleo de 1973, por exemplo, na qual os membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) impuseram um embargo de petróleo contra os EUA e seus aliados em resposta ao apoio americano a Israel durante a Guerra do Yom Kippur, destacou a vulnerabilidade dos EUA à dependência energética do Oriente Médio.

A resposta americana a essa crise incluiu um foco renovado na segurança regional, fortalecendo laços com aliados como a Arábia Saudita e expandindo sua presença militar. A “Doutrina Carter”, anunciada em 1980, deixou claro que qualquer tentativa de uma força externa controlar o Golfo Pérsico seria considerada uma ameaça aos interesses vitais dos EUA, justificando, assim, o uso de força militar para proteger esses interesses.


As guerras no Iraque e o impacto na região

A década de 1990 e os primeiros anos do século XXI marcaram uma nova fase na relação dos Estados Unidos com o Oriente Médio, com as guerras no Iraque desempenhando um papel crucial. Em 1990, o Iraque, liderado por Saddam Hussein, invadiu o Kuwait, levando à primeira Guerra do Golfo em 1991, uma operação militar liderada pelos EUA que visava a expulsão das forças iraquianas do Kuwait. Embora a operação tenha sido bem-sucedida, ela deixou uma presença militar americana significativa na região, especialmente na Arábia Saudita, o que se tornaria um ponto de discórdia com os militantes islâmicos.

A segunda Guerra do Iraque, em 2003, teve consequências ainda mais duradouras. A decisão do governo de George W. Bush de invadir o Iraque, sob a justificativa de que o regime de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa (um argumento que posteriormente se revelou falso), resultou na queda do regime de Saddam, mas também no colapso da ordem política iraquiana e no surgimento de novas instabilidades. A ocupação americana criou um vácuo de poder que foi preenchido por insurgentes e grupos terroristas, incluindo a Al-Qaeda e, posteriormente, o Estado Islâmico (ISIS).

As consequências dessa guerra ainda são sentidas hoje, com o Iraque lutando para se reconstruir, enquanto as tensões sectárias e políticas continuam a alimentar conflitos internos e a influenciar a política regional.


O combate ao terrorismo e a Primavera Árabe

Após os ataques de 11 de setembro de 2001, a política dos EUA no Oriente Médio passou a ser amplamente definida pelo combate ao terrorismo. A “Guerra ao Terror” liderada pelos EUA incluiu intervenções militares no Afeganistão e no Iraque, bem como uma campanha global para desmantelar grupos terroristas como a Al-Qaeda. No entanto, as táticas adotadas pelos EUA, incluindo ataques com drones e operações secretas, geraram críticas tanto dentro quanto fora da região, especialmente pelo número de civis mortos e pela violação da soberania de nações.

A Primavera Árabe, que começou em 2010, trouxe novas complicações para a política americana no Oriente Médio. Embora inicialmente aplaudida como um movimento de democratização, a Primavera Árabe resultou em instabilidade e guerra civil em muitos países, como a Síria, o Iêmen e a Líbia. A resposta dos EUA a esses eventos foi inconsistente, apoiando movimentos populares em alguns países, como o Egito, enquanto hesitava em se envolver diretamente em conflitos como a guerra civil síria.


Desafios atuais e o futuro da influência americana

Hoje, os Estados Unidos enfrentam novos desafios no Oriente Médio, incluindo a crescente influência de potências rivais como a Rússia e a China. Além disso, o Irã, com seu programa nuclear e sua rede de aliados regionais, continua a ser uma fonte de tensão. As recentes tentativas de negociações com o Irã, como o acordo nuclear de 2015 (do qual os EUA se retiraram em 2018 sob a administração de Trump), ilustram a complexidade das relações americanas com o Oriente Médio.

A retirada de tropas americanas do Afeganistão em 2021 e a redução da presença militar em outros países sinalizam um novo enfoque na política externa dos EUA, que parece estar se afastando das intervenções diretas e buscando uma abordagem mais diplomática. No entanto, com os desafios contínuos do terrorismo, instabilidade política e competição por influência na região, é improvável que os EUA deixem de desempenhar um papel significativo no Oriente Médio em um futuro próximo.


Conclusão

A influência dos Estados Unidos no Oriente Médio é um dos temas mais controversos e debatidos na geopolítica mundial. Desde o apoio a regimes autoritários até as intervenções militares, a política americana na região sempre esteve ligada a interesses estratégicos como o petróleo, a segurança de Israel e o combate ao terrorismo. Embora tenha moldado a dinâmica política da região de maneiras significativas, essa influência também gerou descontentamento e resistência, tanto de governos quanto de populações locais.

O futuro da relação dos EUA com o Oriente Médio continua incerto, mas é claro que qualquer mudança na política americana terá repercussões profundas em uma das regiões mais voláteis do mundo. O desafio dos EUA será encontrar um equilíbrio entre proteger seus interesses e promover estabilidade sem recorrer ao tipo de intervenção militar que, no passado, muitas vezes gerou mais problemas do que soluções.


Até mais!

Equipe Tête-à-Tête