Não que eu ame teus filhos cujo olhar obtusoSomente vê a própria e repugnante dor,Cuja mente não sabe, ou quer saber, de nadaÉ que, com seu rugir, tuas Democracias,Teus reinos de Terror e grandes AnarquiasRefletem meus afãs extremos como o... Continue lendo →
Era o último amor. A casa fria,os pés molhados no escuro chão.Era o último amor e não sabiaesconder o rosto em tanta solidão. Era o último amor. Quem advinhao sabor pela escuridão?Quem oferece frutos nessa neve?Quem rasga com ternura o... Continue lendo →
Amor de minhas entranhas, morte viva,em vão espero tua palavra escritae penso, com a flor que se murcha,que se vivo sem mim quero perder-te.O ar é imortal. A pedra inertenem conhece a sombra nem a evita.Coração interior não necessitao mel... Continue lendo →
Passemos, tu e eu, devagarinho,Sem ruído, sem quase movimento,Tão mansos que a poeira do caminhoA pisemos sem dor e sem tormento. Que os nossos corações, num torvelinhoDe folhas arrastadas pelo vento,Saibam beber o precioso vinho,A rara embriaguez deste momento. E... Continue lendo →
Numa casa portuguesa fica bempão e vinho sobre a mesa.Quando à porta humildemente bate alguém,senta-se à mesa coa gente.Fica bem essa fraqueza, fica bem,que o povo nunca a desmente.A alegria da pobrezaestá nesta grande riquezade dar, e ficar contente. Quatro... Continue lendo →
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!Criança! não verás nenhum país como este!Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,É um seio de mãe a transbordar carinhos.Vê que vida há no... Continue lendo →
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,E que nele posso navegar sem rumo,Não respondasÀs urgentes perguntasQue te fiz.Deixa-me ser felizAssim,Já tão longe de ti como de mim. Perde-se a vida a desejá-la tanto.Só soubemos sofrer, enquantoO nosso amorDurou.Mas... Continue lendo →
Há muito tempo já que não escrevo um poemaDe amor.E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!A nossa naturezaLusitanaTem essa humanaGraçaFeiticeiraDe tornar de cristalA mais sentimentalE baçaBebedeira. Mas ou seja que vou envelhecendoE ninguém me deseje apaixonado,Ou que... Continue lendo →
Eu, quando choro,não choro eu.Chora aquilo que nos homensem todo o tempo sofreu.As lágrimas são as minhasmas o choro não é meu. ... António Gedeão (1906-1997) Até mais! Equipe Tête-à-Tête
Guio-mePor teus olhos abertosSobre a trêmula e ardenteSuperfície das lágrimas. De tantas coisasÉ feito o Mundo! Entre escombros, espigas, dias e noitesProcuram os homens ansiosamenteO ramo de louro. Quando, fatigados,Próximos estão do limiar, do pórtico,Os homens deixam, à entrada,Suas mais... Continue lendo →
Eu não voltarei. E a noitemorna, serena, calada,adormecerá tudo, sobsua lua solitária.Meu corpo estará ausente,e pela janela altaentrará a brisa frescaa perguntar por minha alma. Ignoro se alguém me aguardade ausência tão prolongada,ou beija a minha lembrançaentre carícias e lágrimas.... Continue lendo →
Condenado estou a te amarnos meus limitesaté que exausta e mais querendoum amor total, livre das cercas,te despeça de mim, sofrida,na direção de outro amorque pensas ser total e total serános seus limites da vida. O amor não se medepela... Continue lendo →
A luz que me abriu os olhospara a dor dos deserdadose os feridos de injustiça,não me permite fechá-losnunca mais, enquanto viva.Mesmo que de asco ou fadigame disponha a não ver mais,ainda que o medo costureos meus olhos, já não possodeixar... Continue lendo →
Por acaso, surpreendo-me no espelho:Quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu? (...)Parece meu velho pai - que já morreu! (...)Nosso olhar duro interroga:"O que fizeste de mim?" Eu pai? Tu é que me invadiste.Lentamente,... Continue lendo →
Se tu me amas, ama-me baixinhoNão o grites de cima dos telhadosDeixa em paz os passarinhosDeixa em paz a mim!Se me queres,enfim,tem de ser bem devagarinho, Amada,que a vida é breve, e o amor mais breve ainda... ... Mário Quintana... Continue lendo →
Quemsabe um diaQuem sabe um seremosQuem sabe um viveremosQuem sabe um morreremos! Quem é queQuem é machoQuem é fêmeaQuem é humano, apenas! Sabe amarSabe de mim e de siSabe de nósSabe ser um! Um diaUm mêsUm anoUm(a) vida! Sentir primeiro,... Continue lendo →
É uma escada em caracol E que não tem corrimão. Vai a caminho do Sol Mas nunca passa do chão. Os degraus, quanto mais altos, Mais estragados estão, Nem sustos nem sobressaltos servem sequer de lição. Quem tem medo não... Continue lendo →
É quando um espelho, no quarto,se enfastia;Quando a noite se destacada cortina;Quando a carne tem o travoda saliva,e a saliva sabe a carnedissolvida;Quando a força de vontaderessuscita;Quando o pé sobre o sapatose equilibra...E quando às sete da tardemorre o dia-... Continue lendo →
E por vezes as noites duram mesesE por vezes os meses oceanosE por vezes os braços que apertamosnunca mais são os mesmos. E por vezes encontramos de nós em poucos meseso que a noite nos fez em muitos anosE por... Continue lendo →
As asas não lhe cabem no caixão!A farpela de luto não condizCom seu ar grave, mas, enfim, feliz;A gravata e o calçado também não.Ponham-no fora e dispam-lhe a farpela!Descalcem-lhe os sapatos de verniz!Não veem que ele, nu, faz mais figura,Como... Continue lendo →
é o amorO amor é o amor -e depois?!Vamos ficar os doisa imaginar, a imaginar?... O meu peito contra o teu peito,cortando o mar, cortando o ar.Num leitohá todo o espaço para amar! Na nossa carne estamossem destino, sem medo,... Continue lendo →
A meu favorTenho o verde secreto dos teus olhosAlgumas palavras de ódio algumas palavras de amorO tapete que vai partir para o infinitoEsta noite ou uma noite qualquer A meu favorAs paredes que insultam devagarCerto refúgio acima do murmúrioQue da... Continue lendo →
Há palavras que nos beijamComo se tivessem boca,Palavras de amor, de esperança,De imenso amor, de esperança louca. Palavras nuas que beijasQuando a noite perde o rosto,Palavras que se recusamAos muros do teu desgosto. De repente coloridasEntre palavras sem cor,Esperadas, inesperadasComo... Continue lendo →
Quero escrever o borrão vermelho de sanguecom as gotas e coágulos pingandode dentro para dentro.Quero escrever amarelo-ourocom raios de translucidez.Que não me entendampouco-se-me-dá.Nada tenho a perder.Jogo tudo na violênciaque sempre me povoou,o grito áspero e agudo e prolongado,o grito que... Continue lendo →
O que me tranqüilizaé que tudo o que existe,existe com uma precisão absoluta.O que for do tamanho de uma cabeça de alfinetenão transborda nem uma fração de milímetroalém do tamanho de uma cabeça de alfinete.Tudo o que existe é de... Continue lendo →
O que é bonito neste mundo, e anima,É ver que na vindimaDe cada sonhoFica a cepa a sonhar outra aventura...E que a doçuraQue se não provaSe transfiguraNuma doçuraMuito mais puraE muito mais nova... ... Miguel Torga (1907-1995) Até mais! Equipe... Continue lendo →
A casa era por aqui...Onde? Procuro-a e não acho.Ouço uma voz que esqueci:É a voz deste mesmo riacho. Ah quanto tempo passou!(Foram mais de cinqüenta anos.)Tantos que a morte levou!(E a vida... nos desenganos...) A usura fez tábua rasaDa velha... Continue lendo →
O amor é uma companhia.Já não sei andar só pelos caminhos,Porque já não posso andar só.Um pensamento visível faz-me andar mais depressaE ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo. Mesmo a ausência dela é uma... Continue lendo →
Olha que coisa mais lindaMais cheia de graçaé ela menina, que vem e que passaNum doce balanço a caminho do mar Moça do corpo douradoDo sol de IpanemaO seu balançado é mais que um poemaé a coisa mais linda que... Continue lendo →
A Noite vem poisando devagarSobre a Terra, que inunda de amargura...E nem sequer a benção do luarA quis tornar divinamente pura... Ninguém vem atrás dela a acompanharA sua dor que é cheia de tortura...E eu oiço a Noite imensa soluçar!E... Continue lendo →
Eu sou a que no mundo anda perdida,Eu sou a que na vida não tem norte,Sou a irmã do Sonho, e desta sorteSou a crucificada... a dolorida... Sombra de névoa tênue e esvaecida,E que o destino amargo, triste e forte,Impele... Continue lendo →
Ah! arrancar às carnes laceradasSeu mísero segredo de consciência!Ah! poder ser apenas florescênciaDe astros em puras noites deslumbradas! Ser nostálgico choupo ao entardecer,De ramos graves, plácidos, absortosNa mágica tarefa de viver! Quem nos deu asas para andar de rastos?Quem nos... Continue lendo →
Deixa dizer-te os lindos versos rarosQue a minha boca tem pra te dizer!São talhados em mármore de ParosCinzelados por mim pra te oferecer. Têm dolência de veludos caros,São como sedas pálidas a arder...Deixa dizer-te os lindos versos rarosQue foram feitos... Continue lendo →
Hoje que seja esta ou aquela,pouco me importa.Quero apenas parecer bela,pois, seja qual for, estou morta. Já fui loura, já fui morena,já fui Margarida e Beatriz.Já fui Maria e Madalena.Só não pude ser como quis. Que mal faz, esta cor... Continue lendo →
Por que me falas nesse idioma? perguntei-lhe, sonhando.Em qualquer língua se entende essa palavra.Sem qualquer língua.O sangue sabe-o.Uma inteligência esparsa aprendeesse convite inadiável.Búzios somos, moendo a vidainteira essa música incessante.Morte, morte.Levamos toda a vida morrendo em surdina.No trabalho, no amor,... Continue lendo →
Permita que eu feche os meus olhos,pois é muito longe e tão tarde!Pensei que era apenas demora,e cantando pus-me a esperar-te. Permite que agora emudeça:que me conforme em ser sozinha.Há uma doce luz no silencio,e a dor é de origem... Continue lendo →
No mistério do sem-fimequilibra-se um planeta. E, no planeta, um jardim,e, no jardim, um canteiro;no canteiro uma violeta,e, sobre ela, o dia inteiro, entre o planeta e o sem-fim,a asa de uma borboleta ... Cecília Meireles (1901-1964) Até mais! Equipe... Continue lendo →
Guio-mePor teus olhos abertosSobre a trêmula e ardenteSuperfície das lágrimas. De tantas coisasÉ feito o Mundo! Entre escombros, espigas, dias e noitesProcuram os homens ansiosamenteO ramo de louro. Quando, fatigados,Próximos estão do limiar, do pórtico,Os homens deixam, à entrada,Suas mais... Continue lendo →
Sobre mim, teu desdém pesado jazComo um manto de neve... Quem disseraPorque tombou em plena PrimaveraToda essa neve que o Inverno traz! Coroavas-me inda há pouco de lilásE de rosas silvestres... quando eu eraAquela que o Destino prometeraAos teus rútilos... Continue lendo →
Quando penso na alegria vorazcom que comemos galinha ao molho pardo,dou-me conta de nossa truculência.Eu, que seria incapaz de matar uma galinha,tanto gosto delas vivasmexendo o pescoço feioe procurando minhocas.Deveríamos não comê-las e ao seu sangue?Nunca.Nós somos canibais,é preciso não... Continue lendo →
